segunda-feira, 6 de abril de 2015

Elas

Tem horas que eu paro tudo, sinto o nó na garganta, sorrio e recomeço.

Quando a Clara me disse "pode cobrir, mamãe, mas o pé, não, por favor, porque, sabe, não consigo dormir assim...".
E "mamãe, eu não gosto de cosquinhas!", séria.
"Corta essa etiqueta? E depois essa, por favor?".
E fui secar o ouvido com cotonete e ela tossiu, seco.

Porque lá dentro de mim, havia dejà vu. Eu estava diante de outra... Ouvi minha mãe dizendo, "impossível dormir com os pés cobertos. Impossível, detesto".
"Cócegas em mãe não pode. Proibido!".
"Por que tanta etiqueta? Por quê? Traz a tesoura, vou cortar tudo!".
"Eu mexo no ouvido, me dá tosse. Desde pequena é assim. Em você, não?".

Ver as duas matando insetos freneticamente, mesmo eu sendo da paz.
As duas me dizendo pra comprar roupas, porque as minhas estão feias ou não servem, mesmo eu sendo anti consumismo.
As duas observando atentas às rugas dos meus anseios, antes no meio da testa, agora entre meus olhos - "por que isso, o que você tem?".

É um tanto inexplicável. Mas acho que eu te pedi tanto de volta, mãe, e tive tanto medo de te esquecer nas miudezas, que o Tempo me devolveu pedacinhos seus nas minhas riquezas. O sorriso do Lucas me lembra o seu...

Por isso eu sinto o nó. E sorrio, cheia de saudade. E recomeço.

Um comentário:

  1. Saudade é palavra fáceis, digna de sintetizar todos os sentimentos vividos. Não perca jamais este olhar nostálgico de ver em seus pequenos, pedacinhos de açúcar que traduzem este conjunto de sentimentos que vc tem com sua mãe.

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