sexta-feira, 31 de julho de 2015

O que é isso?

- É shiitake.

- Shiitake? O que é shiitake?

- É de comer.

- Mas o que é? É carne?

- Não, é vegetal. É, assim, da natureza. Nasce da terra.

- E a gente põe no macarrão?

- Pode por. Ou em outras coisas.

- E você vai por azeitona, também?

- Vou.

- E o que mais?

- Cebola picadinha, alho, cheiro verde.

- Hummm... Acho que vai ficar uma delícia.


Quando servi o prato, ela olhou desconfiada. Eu estava temerosa disso. Eu nem usei o termo "co-gu-me-lo", me pareceu muito arriscado. Então, era isso. Ela ia olhar e não ia comer. Eu tinha certeza.

- E é só isso que eu vou comer?

- Como assim, filha?

- Só isso?

- É, ué... a mamãe fez esse macarrão.

- Mas não tem, assim... brócolis? Uma beterraba?


Incrédula, busquei a salada na geladeira.
E ela comeu um prato de macarrão alho e óleo com shiitake, acompanhado de uma salada de alface, tomate grape, rabanete, beterraba e brócolis.

Eu não gostei do macarrão.

Espero que um dia Ana Clara me ensine a comer essas coisas. Ela já está tentando.

terça-feira, 28 de julho de 2015

A Pequena Menina Que Era Grande - e de Volta

Era uma vez uma menininha pequena, que na verdade era grande...

- Você vai fazer faxina pra Malu chegar?
- Vou.
- Então, dá um pano pra mim, por favor? Que eu ajudo.

- Mamãe, você olha o Lucas um minutinho, pra eu ir no banheiro?

...que era pequena.

- Mamãe, eu te amo...
- Eu também. E é um amor puro, desinteressado, não precisa de nada pra ser amor. Nem, digamos assim, de uma bala.
- ...Mas quem sabe uma ameixa?

- Você tá ligando pra quem?
- Pro meu chefe.
- Por quê? Você tá com muita saudade dele?

(Lucas começa a chorar)
- Ih, mamãe. É pra você, acho.
- É pra mim?
- É. Temos um paciente pra você. Paciente "Mamá".

<3

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ah, Serafim!

Filhos não deveriam ficar doentes.

Filhos, de nenhuma maneira, sob nenhuma hipótese, poderiam ficar doentes.

Filhos são a engrenagem central do maquinário "mãe", e se eles não funcionam como previsto, a mãe não raciocina, não come ou come o mundo, não dorme. Toma banho, né, porque a sociedade julga.

E tendo dito isso, aviso ao Lucas e a Clara que estão proibidos de me colocar nessa situação de novo.

Que chega de febres e gripes e tosses e alergias, vermelhões nem pensar, e só serão tolerados arranhões MUITO leves se forem oriundos de horas intensas de brincadeiras. E dores, só na barriga e de tanto rir. E lágrimas pelo mesmo motivo. Ou de saudade que passe logo.

E nada de remédios, porque não precisaremos deles.

Só de vocês, remédios para o coração apertado da mamãe.

Só de vocês, razões de alegria e tranquilidade neste lar.

Vocês, minha razão.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

A incrível criança que quer lavar minhas costas

Vi no feriado último a chance máxima de férias com a Clara. E com o Lucas, mas, bem, o Lucas está sempre de férias nestes seus sete meses - a novidade era para a primogênita.

E então eu sentei no chão. E nós brincamos de escolinha, por escolha dela. Lá pelas tantas tinha a história do pão do Seu Zé Rico - toca a mãe a achar uma receita que parecesse, a gente faz e toma café. Ela ajudando. Tá frio, tomara que o pão cresça. Tomamos café, no fim das contas. O Lucas no meu colo, sorridente.

- Ele é meu colega? Tá na minha sala?

- Tá.

- Mas na minha sala não tem bebê.

- Mas na sala da Tia Anita tem.

Esse era o combinado. Eu não era a mãe, mas também não podia ser a Tia Fê, da escola. Nem o Lucas podia ter nome de amiguinho. Então Filipe, o príncipe da Bela Adormecida. E ela me mostrou que sabe contar mas tem preguiça - adivinhar é muito mais gostoso! - e que tem uma criatividade linda - "cola esse, eu vou fazer as janelas de canetinha".

E empinamos pipa, brincamos no parque. Ela dormiu no meu colo, cansada. E passeamos. E ela foi criança e eu fui um pouco também, e até o Lucas que é bebê teve um vislumbre de como é ser criança para sê-lo em breve.

No outro dia de manhã, levantou e veio atrás de mim, no banho:

- Mamãe, também quero tomar banho! Abaixa aqui, deixa eu lavar as suas costas, que você não alcança...

Tantas coisas, Ana, que se não fosse por você, eu jamais alcançaria. Fico pensando onde você e seu irmão vão me levar, juntos.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Sobre gratidão

Ela nem tossiu tanto essa noite - quase não tossiu, na verdade, dormiu bem e acordou tranquila. Lucas dormiu mais da metade da noite no berço e acordou ótimo.

Brincamos de escolinha e Clara somou. Lucas comeu uma banana inteira de manhã e meia manga à tarde.

Arrumamos quase todos os brinquedos.

Passeamos por aí e ela e o pai combinaram de soltar pipa amanhã. Eu nunca soltei pipa. Amanhã.

Lucas tirou as meias e as jogou no chão do Wal Mart.

Fiz macarrão e ficou bom.

E teve horas que as coisas não seguiram o script. Não importa: eu tenho que olhar pra tudo e ser humilde em dizer: gratidão. Que Deus continue nos protegendo e abençoando.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Questão de gênero

Acho uó o lado segregador de gênero da nossa língua pátria - o que não me impede de, ainda assim, achar o português o idioma mais lindo, mais sonoro e mais foda do mundo. Mas, né, bota na cabeça da criança que eu e ela é "nós duas", Lucas e papai é "os dois", e ela e o Lucas também são "os dois". Que ela está vestidA e o irmão está vestidO. Ok.

Aí ontem, chamegando antes de dormir:

- Você é a minha riqueza! E o Lucas também é minha riqueza! E o papai também - tenho três riquezas!

- Não, mamãe...! Eu sou riqueza. O papai e o Lucas são riquezos! Lembra?

Tava tarde, amanhã eu explico. Ou não. Quando ela estiver grande eu vou sentir saudade desse tempo em que o Lucas era "riquezo" e os dinossauros "existem, sim, papai!"...