Nunca houve dúvidas do talento nato para o drama. Já começou na maternidade. Enquanto pesavam, mediam, a enfermeira ao meu lado me disse, no meio do choro que vinha do fundo do corredor:
- Ó, tá vendo o choro? Sentida...
Eu ri. Óbvio que ela estava só puxando assunto e tal. Clara tinha acabado de nascer, como podia ser "sentida"?
Está aí, Ana Clara, aos 4 anos. Sentida.
Ontem, sentada na mesa depois de jantar, pediu pra tia não ir embora, porque eu ia ao sapateado.
- Mas eu tenho que ir, Cacá...
- Você vai embora?
- Vou, preciso de ir.
- E a mamãe vai ao sapateado?
Respondi, lavando a louça:
- Eu vou!
E ela, num muxoxo:
- Já sei. Vou ficar sozinha...
Não deixo a Clara sozinha nem pra ir tomar banho no banheiro dos fundos da casa, diga-se passagem. Ela vai comigo, ela e o Lucas. Mamãe é neurótica, thank you very much, mas não ficam, mesmo. Então da onde veio esse comentário? Com o dramático "já sei", ainda, com coisa que a pobre vítima passasse pelo abandono a torto e direito.
E o Lucas.
O Lucas mal tinha saído da minha barriga, nem todo pra fora estava, deu um resmungo. Depois, o choro alarmado, reclamado. Chegou perto de mim e parou de chorar, mas vez por outra ainda vinha o grito inconformado de "eu não acredito que vocês me tiraram lá de dentro!".
Mas não é o choro "pobre de mim". É o choro "quero ver o seu gerente! eu vou ao procon".
Eles vieram protagonistas, ambos, cheios de anseios para escrever suas histórias. Histórias de personalidade, coragem, dramas e bravezas, mas também alegrias e bondades. Conhecê-los, este é meu maior desejo e meu melhor prazer.
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