terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Quase no Ano Novo

Lucas ganhou um celularzinho de brinquedo, que a mamãe comprou e custou, sei lá, oito reais. Talvez nem isso. Comprei no calçadão da cidade. Não, certamente não é BPA free, deve ter lá seus metais naquela tinta, mas eu já tinha batido muita perna em loja boa sem achar o que eu queria dar pra ele. Dane-se, vou levar esse mesmo, depois compro outro.

Daí ontem tá ele com o celular, que tem um botão com uma máquina fotográfica nele, mirando aqui e acolá.

- Filho, que cê tá fazendo?

Olha pra mim e ri.

Depois coloca de novo na frente do rosto, apontado pra mim, pra Clara, pra TV. Ele está tirando foto!

- Tira uma foto nossa, Lucão!

E todo torto, carregando o celular pra cima e pra baixo, ainda afirmando os passinhos, ele sai com a peça na frente do rosto, como quem procura o foco, fazendo as nossas fotos imaginárias. De vez em quando tira o celular do rosto, olha pra mim e sorri matreiro, sabendo que está fazendo sucesso. Ah, ruivinho!

Quase no Ano Novo, ele com um aninho. E está aberta a adorável temporada de gracinhas. <3

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Indagações

O post de hoje não é diretamente sobre as crianças, mas só acontece por causa delas, não tenho dúvidas.

Este ano de 2015 eu me questionei inúmeras vezes, como nos demais anos. Mas, este ano, muito ciente de mim, das minhas crenças, das escolhas que fiz para minha família, questionei pra caramba o mundo e os outros, também.

Quando eu não sabia que era feminista, por exemplo, era muito tranquilo assistir às pessoas postando coisas machistas no facebook, whatsapp. Piada machista. Vídeo machista. Me incomodava, mas eu achava que era assim mesmo - a gente se incomoda, vida que segue. Agora, me vejo indignada. Por que uma MULHER posta imagens machistas? Que só contribuem para fomentar o nosso universo machista? Por quê? Por que as pessoas acham que "ah, no meu tempo me chamavam de gordo, de preto, de feio, hoje em dia tudo é bullying!". Verdade. No meu tempo me chamavam, mesmo, de várias coisas. E era uma bosta. E era BULLYING. E me fez sentir mal, várias vezes. As pessoas respondem de maneiras diferentes a um mesmo estímulo - e se ser zoado na infância te fez mais forte, olha, que bom pra você. No meu caso, me fez mais introspectiva, mais encabulada, mais ressabiada e tantas outras coisas longe de positivas. Então eu me preocupo. Se eu for ofender alguém, se for alimentar um estigma, se for reforçar um rótulo, eu tento engolir a piada. Às vezes escapa, mas eu tento. Porque não é piada, com o tempo a gente percebe.

Quando eu não me interessava por política e achava que isso era uma coisa para ladrões, era muito mais fácil ficar alheia a tudo. Eu podia conversar com pessoas extremistas e conservadoras ou com anarquistas, pra mim dava tudo na mesma. Até que eu comecei a olhar o ser humano. A pensar no ser humano. Daí ficou difícil ter várias conversas. Daí ficou difícil engolir até os jargões do tipo "direitos humanos para humanos direitos". Opa. Quem foi que um dia achou certo que cercear direitos, para qualquer grupo que seja, estava ok? Quem nos faz mais corretos que o correto? Como julgar alguém se não calçamos seus sapatos? Não consigo entender. Acho que é muito simples: se você está no grupo que quer cercear direitos, limitar, tolher, coibir... você é o escroto. Desculpe.

Quando eu não tinha consciência de que era anti-consumismo e não apenas "sem vaidades", eu não me incomodava com as datas festivas, a avalanche de compras que a precede e o significa distorcido que se constrói aos poucos. Mas hoje eu me vejo pensando, pra cada coisa: preciso disso? O que vai gerar menos lixo - levar 5 garrafas de 600ml ou 12 garrafinhas de 355ml? E reciclar. E reaproveitar. E ver minha filha dizendo "vamos fazer uma casa da Barbie?", e não "comprar". Vendo o Lucas brincar com coisas excelentes que foram dela. Separando coisas que foram de ambos e já não tem mais uso para eles. Recriar o ciclo. Sair fora do círculo do consumo. Eu me sinto mais leve, ainda que vendo os valores das outras pessoas mais distantes dos meus. Talvez consigamos viver na diferença - ou, sendo otimista, quem sabe um dia todos nós entendamos de uma vez que ter, por ter, não serve de grande coisa.

Enfim, quando eu achava que gostava mais de bicho que de gente, viver era mais fácil. Mas eu gosto de gente - não que não goste de bicho. Reduzi drasticamente o uso de produtos testados em animais. Se é uma coisa da qual eu não preciso diretamente (maquiagem, por exemplo), arrisco dizer que reduzi totalmente. Não compro de marcas que testam em animais - mesmo que testem só na China. Mas gosto de gente. Daí ficou dramático fazer compras. Tive que tirar do meu roteiro tantas marcas que  usam trabalho escravo ou infantil... E às vezes, sem saber ou sem querer, acabo ligada a elas - e lembra que eu nem consumista sou, então o negócio é feio mesmo e está pra todo canto. Mas eu vigio. Eu percebo. Eu me importo.

Isso resume tudo.

Meus filhos nasceram, eu envelheci um tantinho, amadureci, e descobri: eu me importo.

Me importo se vai ter mundo.
Me importo com as pessoas que caminham sobre ele.
Me importo com os valores que elas tem.

E penso:
É preciso encher meus dias dos verbos tolerar, acolher, reconhecer. E tolher o verbo tolher. Coibir o coibir. Eliminar o julgar. E caminhar, sempre. Sem nunca esquecer: é preciso ser TODO, sem nunca esquecer que sempre somos, apenas, PARTE.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Sobre olhar e ver

Saí de férias, o blog ficou.

O blog ficou. Tudo ficou. Eu saí de férias e curti meus filhos.

Sim, arrumei coisas para o aniversário. Fomos a médicos. Fiz compras. Mas, no geral, fiquei com meus filhos. Olhei os meus filhos e os vi.

Tomamos banho juntos, sentamos no chão e brincamos. Começamos uma mobília genérica de boneca. Fizemos cócegas. Vi o Lucas começar a andar, estava lá para filmar, para comemorar. Vi a Clara se preparar para sua primeira apresentação de ballet.

Na hora de voltar, meu coração estava acelerado. Voltar ao trabalho. É importante, o trabalho também faz parte de mim, também, mas foi difícil.

No trabalho, com o coração na poltrona da boneca da Ana Clara. No brinquedinho que se aperta, sai correndo - o Lucas atrás. O pensamento no Lucas e na Ana Clara. E hoje é só quarta-feira...