quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Peixinha

Ontem, na otorrino, seguimos para uma audiometria - que deu supercerto, Clarinha escuta bem, tudo em dia.

Mas impagável foi o momento do exame.

Faz assim, põe aqui, senta ali, escuta o apito do trem, ok.

- Agora essa outra parte é pra ouvir o barulho da formiguinha, e você tem que ficar aqui nessa cabine...

Quando a fono abriu a porta, Clara me puxou pelo braço:

- Mamãe! Vou entrar na cabine! Igual ao Doctor Who!

<3



segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O que você vai ser quando você crescer?

Ana e os amiguinhos conversando.

- Quando eu crescer, vou ser veterinária.

- E eu vou ser médico!

- E você?

- Eu vou ser Winx!


Muitos desdobramentos, muitas explicações, Ana acabou escolhendo lá uma profissão para ser quando crescer, no lugar das fadas mágicas do desenho. Mas em tempos de amadurecimento precoce, de ver nossos filhos recebendo goela abaixo letras, números, notícias, informações e fatos, minha Ana teve espaço para sonhar - e eu fiquei feliz. Quando crescer, ela quer ser Winx. Mágica ela já é.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A lista de materiais e o frio na espinha

Sou nova nesse universo, ainda estou aprendendo a caminhar nele.

Fiz compras de listas de materiais escolares. Milhares de vezes. Pra mim. Adorava e até hoje, sejamos honestos, a nerd em mim se realizada passeando em papelaria.

Mas agora são outros quinhentos. Agora é a lista de materiais da Ana. E eu estou envolvida de tantos modos nela. Economicamente. Emocionalmente - quer coisa melhor que ver seu filho feliz com um jogo de canetinhas? É altamente viciante, tão bom que é. Mas tem o envolvimento do meu lado engajado. O meu lado mãe que boicota a propaganda infantil. Que dá uma zoada na Barbie só pra ela não virar "tudo isso" no imaginário da minha criança. Que encana com os desenhos, as histórias dos livros, que tenta com todas as forças ensinar a pequena a questionar TUDO. Esse lado, fazendo compra de materiais escolares, sofre muito.

Giz de cera com princesas esculpidas na ponta. Apontador com orelhas da Minnie. Sem falar a organização das prateleiras - "estojos para menina", "estojos para menino". E eu nunca soube que homens e mulheres tinham uma ergonomia tão diversa que até bolsinha com ziper precisa de ser pensada exclusivamente pra cada sexo! Tá tudo tão errado, que eu comecei a achar que devia ter ido fazer essas compras sozinha.

Mas não devia. Teria perdido a oportunidade de ver a Ana Clara me mostrar coisas sem pedir, de vez em quando pedir e devolver no lugar diante do meu não, e dizer coisas como "você não vai comprar estojo, né? O meu estojo eu gosto muito!" - Time da Casa, um; Consumismo, ZERO.

Quando mostrei os cadernos, fiz o meu melhor pra driblar o sexismo inerente. Mostrei os dois únicos de estampa neutra. E mostrei todos os outros misturados. Moranguinho, Batman, Princesa, Avengers, Frozen, Carros. Ela escolheu um - Frozen, mas o caderno é VERDE! Viva... - e fomos andando. O dos Minions foi o escolhido do ano passado, e tanto no ano passado como ontem estava na pilha dos "cadernos de menino". Perguntei a ela:

- E o dos Minions? Por que não ele?

- Porque eu já tive um dos Minions. Esse ano eu quero um diferente.

Respirei aliviada. Ela não disse "porque é de menino". Ela não disse!

São tantos questionamentos que me perpassam. O sexismo, o consumismo. A aceitação. Tenho lápis de cor meus que dariam bem pra ela aproveitar, mas será que ela será julgada se aparecer com uma caixa velhinha no lugar de um jogo novinho de 24 cores? Mas ceder a essa pressão é fazer de mim uma mãe vendida? E o consumismo e tudo que eu penso dele? Não devia comprar coisas de personagem, sou contra isso. Mas não tem nada que não seja de personagem, meu Deus!

Aos poucos vou percebendo que, por mais que eu tente educar Ana e Lucas para que eles ajudem nessa transformação de mundo, pra que eles arregacem as mangas e me ajudem a fazer desse um lugar melhor, muito melhor... O lugar é este mesmo, por enquanto. Resta fornecer a eles as ferramentas para subverter. Para transformar.

Na fila do caixa, ela me fez um pedido:

- Sabe, você manda fazer uns adesivos? Das Winx. Vou colar em tudo!


Não deixam de ser personagens, mas: isso mesmo, Ana Clara! Não aceite o que o mundo te dá e só. Queira mais. Peça adesivos e cole. Encontre a sua maneira de ser você, mesmo quando tentam não te dar espaço.

Eu achei que não levar as crianças me faria economizar no processo de compra da lista de materiais.
Mas levá-las me fez sair no lucro.


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O controle

Tenho problemas com controle.

Quero gerenciar tudo, controlar tudo. Cada aspecto, macro e micro, da minha simples vida.

Ontem, pela primeira vez, Clara foi ao cinema sem a mãe ou sem o pai. Foi com os amigos, a minha querida amiga que é mãe dos amigos - a quem eu confiei uma das minhas preciosidades sabendo que ela cuidaria como se fosse sua própria. Fiz aquelas recomendações de mãe. Ela chegou com sorriso no rosto, feliz da vida.

Deitada ao lado dela, na cama, observei. Como ela está grande. Como ela está se virando bem nas mais diversas situações. Como temos pouco tempo juntas e isso me machuca. Ao mesmo tempo, como é bom e maravilhoso estar ao lado dos meus filhos, qualquer tempo que seja, para fazer o que houver. E como tudo isso é incontrolável. O tempo... Acho que é isso que eu quero controlar, nunca vou conseguir: o tempo. Porque ele corre através dos meus dedos e eu não consigo pausar, eu não consigo simplesmente parar tudo e dizer, "vamos viver aqui, um minuto, depois cuidamos da janta e da roupa...".

Mas viver é isso mesmo, oras. É viver, sem parar, sem pausas para brincar, brincando no meio da janta e da roupa, tentando encontrar caminhos, alternativas, desbravando.

- Você sentiu minha falta, hoje? - perguntei.

- Muita!...

- Eu também senti a sua. Muita.

- Então vou te dar o carinho maior do mundo.

É só um abraço apertado, mas ela está certa. É o carinho maior do meu mundo... Este e os abracinhos do neném. Me lembram de como eu sou pequena, como eles estão grandes, como não controlo nada de nada... e como dá pra ser bem feliz, assim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Gratidão

- Mamãe, a gente pode escrever outra carta para o Papai Noel, amanhã?

- Por que, Ana?

- Pra agradecer meu presente. Porque eu adorei!


Quase um mês depois, ela percebeu que faltou o "obrigada". Lindeza.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Dúvidas e Indagações

- Mamãe? Por que o olho chama "olho"?

- Nossa, filha...

- Por que, mamãe? Eu queria que o "olho" chamasse "linda". Por que o moço que resolveu escolheu "olho"?

- Nossa, Clara, a mamãe... A mamãe não...

- Não sabe?

- Não sei, filha. Honestamente.

- Ah, imaginei. Que pena.


Eu poderia começar a falar sobre o complexo processo de formação de um idioma. Mas só essa curiosidade dela me alimentou a alma até não sobrar mais espaço pra nada - e eu só sorri.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Dois

Abrem meu armário e tiram os sapatos de lá. Os dois. Calçam - o menor TENTA calçar, na verdade - e saem pela casa com os sapatos. Se deu certo, nos pés. Se não deu certo, na mão. Fechados num abraço. Na cabeça. Eles põem meus sapatos em qualquer lugar.

Olham um pro outro com a cara mais faceira desse universo. Quem recebeu a primeira olhadela sai correndo, se sabendo presa. O dono do primeiro olhar atrás.
- Gente, para de correr, olha a quina! Olha parede! Lucas, cuidado, a curva tá muito fechada! Clara, desce do sofá, seu irmão está no maior fogo... ai, Jesus!

Eu desfazendo a mala pra refazer.
- Por que você tá tirando?
- Acho que peguei muita coisa. Vou dar um jeito. Você viu aquele shortinho verde?
- Tá com o Lucas.
- Lucas!
Tentando por o short na boneca da Ana. A Ana aproveita, já pega uma outra roupa pra por na cabeça da boneca. E ficam os dois no chão, brincando. Eu vou dando falta das roupas aos poucos, e resgatando do chão pra dentro da mala. Quando peguei o shortinho da boneca, ralharam os dois, indignados.

- O que cê tá comendo?
- Uva.
- Hum.. eu quero uva.
Mal entrego um bago e já estende a mão de novo.
- Mas já?
- Dei pro Lucas.
E ficam assim, os dois, na barra da minha saia, comendo a (minha) uva. Deixa, depois compro mais. Melhor coisa ver os dois comendo felizes e se deliciando com uma coisa tão à toa e saudável.

E quando eu pergunto:
- Clara! Cadê vocês?
- No meu quarto! - ou no quarto do Lucas, ou no quarto da Mamãe, ou na sala, ou aqui fora, tanto faz a resposta.
- Fazendo o quê?
- A gente tá fazendo BAGUNÇA!



Eu faço uma prece em silêncio. Peço pro anjinho da guarda de cada um redobrar a atenção (e ó que eles bem fazem hora-extra, graças a Deus). E agradeço. Como agradeço por estes presentes na minha vida. Minhas riquezas. Mesmo que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, sem amor eu nada seria...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Sobre seguir

Post desabafo da Ana-eu. Não espere gracinhas das crianças - em breve retomaremos nossa programação normal.


Ano novo. Gosto de ano novo, sou uma pessoa de ciclos. Gosto dessas viradas. De recomeços e novas chances, de arquivar memórias boas e aprender com as não tão boas. Sou assim bem simplista. Sei que hoje é o mesmo que semana passada, que a rigor nada mudou - mas eu ganhei a oportunidade de me enxergar diferente, simplesmente porque troquei de agenda e calendário. E vamos nós.

E me enxergando, vi coisas que eu há tempos evitava ver. Mas é preciso.

Quando eu era pequena, eu queria fazer parte. É meio genérico e quase ridículo, mas acho que era isso que eu queria. Como filha única, com dois primos mais velhos - ou seja, eu era a caçula bobinha..rs... (e acho que sempre serei, aliás), sem amigos, sem brincar com as crianças na rua, eu me sentia muito só. Tinha companhias esporádicas, mais frequente a companhia dos meus primos, e lá no fundo a vontade de fazer parte.

Via meus colegas passando a tarde no shopping, fazendo noite do pijama, aniversário na piscina na casa de fulana. Comigo era mais ou menos assim: se eu chamava e oferecia alguma coisa de bom (piscina, por exemplo), até apareciam umas duas ou três meninas. Se alguém chamava, às vezes de verdade e às vezes por educação, minha mãe não deixava. E fui crescendo. Mas esse sentimento... O sentimento do pária me acompanhou muito tempo. Hoje eu acho até bonito ser esquisita, mas nem sempre foi assim. E a esse sentimento de solidão associei uma dor na boca do estômago que parece até fome, me sobe um engasgo até a garganta, e o coração acelera um cadinho: a minha condição fisiológica de estar triste.

A vida me trouxe muitas coisas. Crescer, para mim, foi muito bom. Não sabia ser criança e não aprendi muito bem. Mas crescendo, achei que alma e corpo se ajustaram no mesmo número. Chegaram amigos. Comecei a fazer parte. Descobri que ok ser eu - era só eu que tinha, mesmo, pra ser -, e que a felicidade é diferente dos comerciais e das histórias que eu leio. A minha felicidade é uma história inédita, que eu tenho que escrever antes de ler, e com muito mais complexidade do que se poderia supor. E tudo bem.

Mas às vezes, no meio das coisas todas, alguma chave muda. Em algum momento, você vê que, não sabe muito bem porque, as pessoas não te veem mais como costumavam te ver, nem você a elas, nem você a você mesmo, e é tudo parte desta história. Não é nada de propósito, premeditado... são as construções dessa teia. Acontece. E mesmo seu melhor não é o suficiente. E você percebe que ninguém está aceitando o seu melhor - o seu melhor é pouco, mas olha, era o prato do dia. Como ser eu é só ser eu, mesmo a gente sempre tentando melhor, no final só nós somos sempre iguais a nós próprios - e, muito ou pouco, somos nossa própria companhia. Mas, enfim, alguma coisa muda. Permanentemente. E é preciso seguir.

Só que, sabe, dói um pouquinho. Porque, no processo, você se vê distante de gente que importou muito - ou ainda importa, mas vamos manter o passado para nos convencer de que tudo bem. Você se vê sendo menos para quem é/foi muito pra você.

Quando percebi, já estava com dor de estômago. Ou será que é fome? Veio um negócio até a gargante e eu pensei...meu coração está batendo tão depressa. Que seja, mas me recuso a ficar triste. Porque tenho muitos mais motivos para a felicidade do que para a tristeza, não vou me esquecer. E Pessoa me ensinou, para nunca abandonar o ensinamento... "Somos quem somos. E quem fomos foi coisa vista por dentro".