quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Dois

Abrem meu armário e tiram os sapatos de lá. Os dois. Calçam - o menor TENTA calçar, na verdade - e saem pela casa com os sapatos. Se deu certo, nos pés. Se não deu certo, na mão. Fechados num abraço. Na cabeça. Eles põem meus sapatos em qualquer lugar.

Olham um pro outro com a cara mais faceira desse universo. Quem recebeu a primeira olhadela sai correndo, se sabendo presa. O dono do primeiro olhar atrás.
- Gente, para de correr, olha a quina! Olha parede! Lucas, cuidado, a curva tá muito fechada! Clara, desce do sofá, seu irmão está no maior fogo... ai, Jesus!

Eu desfazendo a mala pra refazer.
- Por que você tá tirando?
- Acho que peguei muita coisa. Vou dar um jeito. Você viu aquele shortinho verde?
- Tá com o Lucas.
- Lucas!
Tentando por o short na boneca da Ana. A Ana aproveita, já pega uma outra roupa pra por na cabeça da boneca. E ficam os dois no chão, brincando. Eu vou dando falta das roupas aos poucos, e resgatando do chão pra dentro da mala. Quando peguei o shortinho da boneca, ralharam os dois, indignados.

- O que cê tá comendo?
- Uva.
- Hum.. eu quero uva.
Mal entrego um bago e já estende a mão de novo.
- Mas já?
- Dei pro Lucas.
E ficam assim, os dois, na barra da minha saia, comendo a (minha) uva. Deixa, depois compro mais. Melhor coisa ver os dois comendo felizes e se deliciando com uma coisa tão à toa e saudável.

E quando eu pergunto:
- Clara! Cadê vocês?
- No meu quarto! - ou no quarto do Lucas, ou no quarto da Mamãe, ou na sala, ou aqui fora, tanto faz a resposta.
- Fazendo o quê?
- A gente tá fazendo BAGUNÇA!



Eu faço uma prece em silêncio. Peço pro anjinho da guarda de cada um redobrar a atenção (e ó que eles bem fazem hora-extra, graças a Deus). E agradeço. Como agradeço por estes presentes na minha vida. Minhas riquezas. Mesmo que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, sem amor eu nada seria...

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