Na hora de sair:
- Mamãe, você vai trabalhar?
Eu vi o biquinho. E doeu.
- Eu vou, meu amor. O dia vai passar rapidinho...
E ela caiu no choro. Não era birra, não era graça, não era nada. Era só um choro doído, que foi levando meu coração derretido enquanto descia o rosto dela:
- Mamãe, não vai trabalhar, hoje! Fica comigo! Fica comigo, por favor. Não vai, mamãe.
Fechei ela no meu abraço, apertado. Tentei beijar cada lágrima que eu causava. Ela me olhava esperançosa:
- Fica comigo, hoje?
- Amanhã, meu amor. Amanhã e depois.
O bico voltou.
- E daqui uns dias, duas semanas. Mamãe vai sair de férias! Não é bom? Nós vamos ficar juntas o dia inteiro, muitos dias.
Muitos dias. Nem eu acreditei nessa minha mentira, mas o que dizer a ela? O sorriso não abriu. Ficou me olhando séria.
- Me dá um beijo, meu amor? Mamãe tem que ir...
Ela me abraçou de novo. Me beijou. Quando me soltou e eu cheguei na sala, veio correndo de novo:
- Mamãe! Não vai...! Me dá um beijo.
Fiz a maior covardia que as mães fazem. Me abaixei, olhei nos olhos dela:
- Eu vou te dar um beijo e ele vai te fazer muito forte. E a mamãe vai sair pra trabalhar, e o dia vai passar rapidinho, e eu vou voltar logo logo pra gente ficar juntinho. Tudo bem?
Ela fez um sim que era não, mas fez que sim.
Me deu mais um abraço apertado, eu dei o beijo, e ela voltou resmungando para tomar café.
E o meu pedaço, que sobrou, veio trabalhar. *suspiro*
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